quarta-feira, 22 de abril de 2009

No dia da liberdade em Ouro Preto, Aécio faz lembrar os tempos da ditadura


O 21 de abril em Ouro Preto mostrou uma Minas dividida. Desde a ditadura não se via tamanha repressão no dia e na terra da Liberdade. Contrariando a tradição, o governador Aécio Neves ordenou que a Praça Tiradentes fosse totalmente cercada por três barreiras com policiais fortemente armados.

Só entrava na Praça Tiradentes quem portasse uma pulseira azul, que era distribuída por funcionários do governo e membros do PSDB. O ato oficial, que lançou as comemorações do ano da França no Brasil, foi transformado em uma atividade de campanha eleitoral de Aécio.

A repressão era tão forte que deixou praticamente todos sem acesso `a praça. Apesar de ter alugado centenas de ônibus e pago 30 reais para jovens balançarem bandeiras do PSDB, via-se pouca gente acompanhando as festividades.

O autoritarismo implementado tinha o objetivo de impedir a entrada de sindicalistas e militantes sociais que foram para a cidade protestar justamente contra a forma policial que é tratado por parte do governo o movimento social mineiro. Mas praticamente todo mundo ficou de fora da festa.

“Vim de carro de Belo Horizonte especialmente para acompanhar a entrega das medalhas, todo ano faço isso, mas hoje fui impedida pela polícia”, reclamava com frustração e indignação Rosangela Macedo, que estava acompanhada dos filhos e chorava na frente de policiais fortemente armados.

Protesto

Por ironia do destino, o slogan escolhido pelo movimento social de Minas para protestar no 21 de abril foi justamente: “Com Aécio, Minas não respira liberdade”. Reunidos em frente a Igreja das Mercês, fora das barreiras policiais, mais de mil pessoas denunciaram o caráter elitista e repressor que tem o governo de Aécio Neves.

A atividade foi organizada por mais de trinta sindicatos e entidades sociais mineiras, aglutinados pelo recém criado Fórum Sindical e Social. A presença teria sido muito maior não fosse a repressão cometida pela Polícia Militar durante todo o trajeto de BH para Ouro Preto. Os ônibus com manifestantes eram parados mais de três vezes, passando por revistas individuais que demoravam mais de uma hora.

Unidade

A atividade organizada pelo movimento social mineiro em Ouro Preto marcou a grande unidade criada em oposição ao governo Aécio Neves. “Grande parte das entidades estão aqui hoje e isto mostra que este governo não representa nossos interesses. O que vimos nestes anos por parte do Aécio foi um governo neoliberal, repressor, que sempre perseguiu os sindicatos e serve apenas aos empresários”, denunciou Julio César Silva, que é diretor do Sindieletro e um dos coordenadores do Fórum Sindical e Social.

Praticamente todos os militantes que falavam na manifestação comemoravam a unidade alcançada na contrução da atividade em Ouro Preto. Citando trecho da música de Paulinho da Viola, que diz, “da unidade sai a novidade”, o presidente da União Colegial de Minas Gerais, Flávio Panetone, afirmou que não é mais tolerável a política neoliberal e conservadora desse governo. “Já chega, precisamos de educação de qualidade e valorização do povo”. Panetone afirmou que manifestações como aquela é que mostrará o que Minas precisa.

Hilton Timóteo Rodrigues, que é morador ouropretano e diretor do Sindicato dos Servidores da UFOP, relatou que o clima de repressão implementado no 21 de abril começou dias antes na cidade. “Hoje que para nós é de festa, está um terror, quem não tiver a pulseirinha azul não pode passar, só poderemos transitar livremente de novo, quando o governador for embora”, lamentou indignado.

O Diretor do Sind-Saúde Contagem, José da Conceição, afirmou que o ato serve para mostrar os desmandos e hipocrisia que permeia o governo de Aécio. Para o sindicalista, esse é um governo contra os movimentos sindicais que lutam pelo trabalhador. “Olha esse exemplo, esse cercamento a cidade é uma afronta a Constituinte Brasileira que nos dá o direito de ir e vir. Formos cercados, revistados, tratados como marginais”.

É o maior cordão de isolamento da história”, denunciou o deputado estadual Carlin Moura (PCdoB), único parlamentar presente no protesto. “Isso mostra como foi o governo de Aécio nesses quase sete anos. Na homenagem a França, ele fala de liberdade, fraternidade, o lema da Revolução Francesa, mas ficou somente no discurso, pois se mostra um verdadeiro Luiz XV, um ditador”, desabafou Carlin, que considera essa atitude, uma demonstração de mentalidade atrasada do governador.

Crise

Vandeley Martini, da direção nacional do MST, afirmou que um dos objetivos do ato também era cobrar do governo do estado uma postura diante da crise econômica. “Minas é o estado que mais sofre com a crise, em função da decadência do setor de mineração. A sociedade está cobrando uma postura em relação a crise. O governo do estado precisa viabilizar medidas que façam com que a crise atinja menos possível os trabalhadores, mas até hoje nada foi feito”.


O presidente da CUT Minas, Marco Antônio denunciou o sucateamento das estatais e a política desenfreada de privatização no Estado. Segundo ele, esse é um dos motivos pelos quais Minas mais demitiu trabalhadores com a crise. “Ainda amanhã, dia 22, haverá fechamento de mais uma mina em Brumadinho. O governo do estado tem que apresentar alternativas para enfrentar a crise como faz o presidente Lula”.

Medalha da Conjuração

Na atividade do movimento social também teve entrega de medalhas. Em contraponto `a Medalha da Inconfidência, entregue pelo governo do Estado, lutadores mineiros foram homenageados com a Medalha da Conjuração, que foi indicada pelos membros do Fórum Sindical Social. Segundo Gilson Reis, presidente do Sinpro Minas e da CTB, “foi uma forma de valorizar os que sempre lutaram pela libertação do povo, muitos deles, morreram lutando pela liberdade”.

Os homenageados foram:

Frei Gilvander
Ênio Bonemberg
Gilse Cosenza
Helena Greco
João Batista Rebouças
Euler Ribeiro
Célio de Castro
Lúcio Célio Guterres
Clodesmidt Riani
Dazinho
Eliana Silva de Jesus
Eloi Ferreira
O motorista e os fiscais assassinados em Unaí,
João Calazans
Ondina Pedrosa Nahas
Edgar da Matta Machado

sábado, 18 de abril de 2009

Fórum sindical prepara seu 1º ato contra Aécio em Ouro Preto

A solenidade oficial do governo de Minas Gerais em Ouro Preto em 21 de abril, para a celebração da Inconfidência Mineira, terá como contraponto o primeiro ato público do Fórum Sindical Social, que se opõe ao governo Aécio Neves (PSDB).

Enquanto Aécio, potencial candidato a presidente da República, estiver recebendo os seus convidados na praça Tiradentes para homenagens e condecorações com a medalha da Inconfidência, as cerca de 30 entidades sindicais e sociais que compõem o fórum, criado em novembro do ano passado, planejam estar perto dali em um ato paralelo, de oposição.

Sindicatos ligados às estatais Cemig (de energia) e Copasa (de saneamento), como os dos engenheiros, estão à frente da organização do fórum.

O fórum lançou um manifesto no qual contesta ações do governo mineiro em várias áreas e diz que ele adota "práticas antissindicais". Fala em "desmantelamento da estrutura do Estado em benefício de um projeto político pessoal".

Em nota enviada à Folha, o governo de Minas Gerais contesta os argumentos usados pelo Fórum Sindical e Social ao afirmar que "mantém permanente diálogo" com as entidades, reconhece "a importância e o valor de suas representações" e que tem como "rotina" uma agenda de reuniões.

"Este ano, o ato de natureza política convocado para esta data é visto pelo governo com naturalidade, já que fazem parte do contexto dessas manifestações, afirma a nota."

Publicado na Folha de São Paulo, do dia 18 de abril